Cunha completou 299 anos testemunhando acontecimentos desde o século XVII sob o ponto de vista dos colonizadores, e ainda continua sendo sob a ótica do desenvolvimento. Há uma rica mistura histórica entre desbravadores e silvícolas, neste imenso palco que é a Serra do Mar, onde atuou como protagonista primeiro entreposto localizado na boca do sertão, trampolim para as longínquas jazidas de ouro e pedras preciosas das Minas Gerais e terras Diamantinas e Goyazes, mais além.
Assim como o Brasil, que foi incialmente colonizado por impiedosos desbravadores, desertores, criminosos e aventureiros, Cunha, antes denominada região do Facão, foi também acoito de desertores da Marinha, fugitivos e gente de toda a sorte. No decorrer de algumas décadas a região ficou menos perigosa, com a presença das milícias, que apesar de truculentas tiveram seu lado positivo, estabelecendo o comportamento do cidadão em rédeas mais curtas, em parceria com a presença da igreja e seus representantes espirituais.
Foram tempos muito difíceis, até inimagináveis de como uma pessoa comum estivesse sempre subjulgada ao hostil ambiente, também os indígenas, em especial os guaianases. Tudo faz parte da história e ficou no passado, porém, surgem aqueles que querem de alguma forma tentar mudar o que já foi consumado, criminalizando alguns e vitimando outros, inclusive com atos ainda mais abomináveis como as depredações dos monumentos históricos que são os marcos da nossa cultura. Reescrever a história sim, apontar os feitos e os crimes praticados na época, pois a verdade é apenas uma e esta deve prevalecer e aflorar, para que as gerações futuras possam saber dos verdadeiros fatos. É bem diferente de querer apagar a história impondo as ferramentas da ignorância alimentada pelo fanatismo de ativismos sem escrúpulos. O equilíbrio é a receita certa. Não faz mal algum destronar o que foi escrito sobre as bandeiras como se fossem heróis. Não, eles não foram heróis; na verdade criminosos ao descarregarem seus mosquetões nos verdadeiros donos da terra. Deixaram aqui a sua decendência, que somos nós habitando um Brasil imenso territorialmente, graças a eles. O que podemos fazer é refletir e tornar a vida dos naturais mais confortável e promissora, deixando-os nos seus quinhões de terra vivendo suas próprias crenças e culturas.
De 1724 até os dias de hoje muita coisa mudou e a cidade não conseguiu preservar seu patrimônio histórico, por diversas razões que não cabem discussão, pois, além de ser passado e sem a mínima probabilidade de voltar ao que era, o desenvolvimento ditou e dita estas mudanças. Vez por outra, em determinadas épocas festivas, passamos por alguns lugares de cunha, onde são expostos nas ruas os painéis com as fotos mostrando como era a cidade e seus casarões, que com certeza, se preservados como Tiradentes, Ouro Preto, Goiás Velho, Pirenópolis e poucas outras, o fator turismo teria outro apelo, senão apenas como local aprazível e acolhedor como é nos dias de hoje.
O importante é que a cidade e seus habitantes, sejam os natos ou aqueles que chegam para morar, vem procurando mudar e suprir as falhas da história, criando oportunidades em outras atividades que, se bem apoiadas pelos organismos públicos, poderá manter suas belezas naturais preservadas, a incrementação das atividades artísticas, reconhecendo que a região é naturalmente turística e fazer valer esta primícia, orientando o cuidado urbano, com aplicação coerente das verbas para atrair cada vez mais turistas e aumentar a arrecadação municipal. Há de se destacar pontuais iniciativas de reformas e construções na cidade que procuram dar a fachada origina colonial aos prédios recuperados.
Atualmente Cunha tem o trunfo de ser a capital da cerâmica de alta temperatura na queima pelo processo de fornos Noborigama advindos da cultura japonesa e o processo rudimentar de queima em forno pré-colombiano, como os da Comunidade Vargem do Tanque, contudo são poucos locais de atividade desta prática, sendo a maioria atualmente fornos de queima por eletricidade ou usando gás liquefeito. Mas, o artista escolhe as suas ferramentas e a criatividade aflora. Uma cidade que pretende preservar suas conquistas culturais, suas raízes, deve se preocupar e precaver-se com a preservação desta prática milenar criando antecipadamente artifícios de defesa e exclusividade, regulamentados por leis, que em futuro próximo poderá ser extinta, pelas atividades comerciais do varejo consumista e também por alguma possível lei ambiental que poderá tachar a queima de madeiras de exploração sustentáveis e com isso inviabilizar a manutenção desta tradição.
De onde viemos, sabemos. Para onde vamos dependerá de cada um de nós e das ações da coletividade.
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